terça-feira, 13 de maio de 2014

Romance em Santa Maria



Às vezes eu chego cedo demais. Apresso-me, e algumas pessoas se agarram por mais tempo à vida do que seria esperável.” Disse a morte no Best Seller A menina que roubava livros.

Saíram para dançar naquela noite fria, que mais tarde aquecera. Eram jovens, eram muitos.
A noite, quase sempre, é aliada dos jovens, vilã de alguns, mas é na noite que o mundo é nosso, longe dos pais, longe de tudo que nos protege. Perto da intensidade, do perigo, dos tantos segredos que tantas vezes não são só nossos.

Muitos deram seu último beijo, viveram uma paixão sublime e imediata, tão curta quanto a própria noite. Pularam em roda abraçados com os amigos pela última vez, conheceram o amor da sua vida que, no entanto, não viveu. 

Talvez aquela garota que escapou, beijou o ex futuro pai dos seus filhos, e o telefone que trocaram, jamais irá tocar. 

Muitas histórias começaram naquela noite, por lá findaram ou, de lá continuarão, e terão inúmeras, Santa Maria vai render muitas histórias na prateleira dos dramas, terror e suspense, e, porque não, romance.

Eles eram tão livres, dançando, cantando, eram tão soltos. Num segundo se aprisionaram, sufocados numa espécie de inferno, sem oxigênio, só calor e dor aspirando a morte.  

Eles eram bons, só lutavam pela vida, e nesse estado de necessidade, qualquer corpo amigo era um chão, a vida gritava desesperada por uma chance, e a sua própria, vale mais que a alheia, por isso pisaram, puxaram e empurraram outros, apenas para prolongar aquela noite, e assim chegar em casa para ver os pais mais uma vez. E estes, coitados, nada puderam fazer, pois não podiam prever tamanha tragédia.

Diz o moço dos hermanos: “ e se eu fosse o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado?” 

Dispenso a previsão, é preciso viver pra descobrir, é preciso morrer pra ensinar. Porque em breve virão legislações alterando regulamentos que irão prevenir acidentes que se tornaram previstos, mas que em nada mencionará o imprevisível, porque este, amigo, é desconhecido. Afinal, quem diria, Brasil?

E ficou, um pouco da história, numa canção de Nando Reis que, ironicamente, se chama Santa Maria e fala de um romance que nasceu e morreu no mesmo lugar, e diz, lindamente:

“Depois você tirou as botas e completamente linda adormeceu, o sono é a poesia com um texto tátil, e assim foi que de Santa Maria nos separamos, e ela ali permaneceu, embarcamos pra fazer a última viagem, e eu me lembro do seu rosto, do seu gosto, dos seus dedos que entre os meus se confundiam e pareciam ser um do outro, entrou pra sempre dentro do meu corpo, o seu corpo se escrevendo em minha pele, e o amor nos perguntou, e nós dois dissemos que fim.”

E assim deixo, os sinceros sentimentos, de mais um jovem que se sujeita ao perigo sem saber de onde ele vem, que crê que é inatingível pelo mal, que gosta de viver e tem medo da morte.


Que Deus conforte todas as famílias das vítimas e refresque as tantas almas que já purgaram em sua partida. #Luto

Mariano Sá

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