“Às vezes eu chego
cedo demais. Apresso-me, e algumas pessoas se agarram por mais tempo à vida do
que seria esperável.” Disse a morte no Best Seller A menina que roubava livros.
Saíram para dançar naquela noite fria, que mais tarde
aquecera. Eram jovens, eram muitos.
A noite, quase sempre, é aliada dos jovens, vilã de alguns, mas é na noite que
o mundo é nosso, longe dos pais, longe de tudo que nos protege. Perto da
intensidade, do perigo, dos tantos segredos que tantas vezes não são só nossos.
Muitos deram seu último beijo, viveram uma paixão sublime e
imediata, tão curta quanto a própria noite. Pularam em roda abraçados com os
amigos pela última vez, conheceram o amor da sua vida que, no entanto, não
viveu.
Talvez aquela garota que escapou, beijou o ex futuro pai dos
seus filhos, e o telefone que trocaram, jamais irá tocar.
Muitas histórias
começaram naquela noite, por lá findaram ou, de lá continuarão, e terão
inúmeras, Santa Maria vai render muitas histórias na prateleira dos dramas,
terror e suspense, e, porque não, romance.
Eles eram tão livres, dançando, cantando, eram tão soltos.
Num segundo se aprisionaram, sufocados numa espécie de inferno, sem oxigênio,
só calor e dor aspirando a morte.
Eles
eram bons, só lutavam pela vida, e nesse estado de necessidade, qualquer corpo
amigo era um chão, a vida gritava desesperada por uma chance, e a sua própria,
vale mais que a alheia, por isso pisaram, puxaram e empurraram outros, apenas
para prolongar aquela noite, e assim chegar em casa para ver os pais mais uma
vez. E estes, coitados, nada puderam fazer, pois não podiam prever tamanha
tragédia.
Diz o moço dos hermanos:
“ e se eu fosse o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado?”
Dispenso a previsão, é preciso viver pra descobrir, é preciso morrer pra
ensinar. Porque em breve virão legislações alterando regulamentos que irão
prevenir acidentes que se tornaram previstos, mas que em nada mencionará o
imprevisível, porque este, amigo, é desconhecido. Afinal, quem diria, Brasil?
E ficou, um pouco da história, numa canção de Nando Reis
que, ironicamente, se chama Santa Maria e fala de um romance que nasceu e
morreu no mesmo lugar, e diz, lindamente:
“Depois você tirou as botas e
completamente linda adormeceu, o sono é a poesia com um texto tátil, e assim
foi que de Santa Maria nos separamos, e ela ali permaneceu, embarcamos pra
fazer a última viagem, e eu me lembro do seu rosto, do seu gosto, dos seus
dedos que entre os meus se confundiam e pareciam ser um do outro, entrou pra
sempre dentro do meu corpo, o seu corpo se escrevendo em minha pele, e o amor
nos perguntou, e nós dois dissemos que fim.”
E assim deixo, os sinceros sentimentos, de mais um jovem que
se sujeita ao perigo sem saber de onde ele vem, que crê que é inatingível pelo
mal, que gosta de viver e tem medo da morte.
Que Deus conforte todas as famílias das vítimas e refresque
as tantas almas que já purgaram em sua partida. #Luto
Mariano Sá
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