quinta-feira, 6 de abril de 2017

Quando trintei



A cada ano o desejo se repete de viver outros tantos, e cada “muitos anos de vida” são bem vindos, porque afinal, esse é o desejo: viver! Ninguém vive a conta-gotas. Ninguém torce pra viver mais um ano e no ano seguinte pedir mais um e assim sucessivamente.  A gente sempre mira alto quando o assunto é longevidade da vida. A gente sempre quer dos 80 pra lá e sem bengala, viu? Tem que ser viril, jogando bola e tomando uma.

Eu quero viver de 30 em 30, a cada trintênio renovarei os sonhos dos próximos anos, mas sem esquecer os anteriores formadores do presente. Porque intrinsecamente nos meus 30, tem coisa dos oito que ficou, ideais dos doze que carrego até hoje, personalidade dos dezesseis que Deus me livre que mude. É uma essência infantil que funciona como alicerce e eu não posso perdê-la. É viver na busca incansável de crescimento pessoal, para ser alguém sem deixar de ser quem eu sou. Esse é o plano.
Das coisas que já escrevi tem uma que gosto muito, porque me define bem:

“Querer tudo como quem não quer nada, deve ter sido meu grande disfarce de interessado desinteressado. É que eu sou mangueboy e desorganizando posso me organizar.”

Na verdade eu parafraseei D2 e Chico Science que provavelmente leram Coríntios, pra lembrar que Deus escolhe as coisas loucas desse mundo para confundir as sábias, porque ele sabe, nas entrelinhas dessa elipse, que tem coisas que só os loucos sabem, e que a própria vida em si, é loka, nêgo, e nela eu to de passagem – pra não deixar racionais de fora.

Eu vivo teimando em tirar algum aprendizado das coisas mais simples, d’uma música que ouço, d’uma partida de futebol, de algo que leio pichado na parede e por aí vai, o mundo tá cheio de poetas e gente disposta a ensinar algo despretensiosamente, como um transeunte que deixa cair uma flor, quando é de uma flor que precisamos. 

Eu vou continuar carregando, pelos próximos trinta anos, um otimismo gigante, na crença de que tudo vai dar certo na minha vida e na dos outros, e seguir invicto, pois nessa vida só se perde pra valer uma única vez, e que esta demore.

Eu sou daquela safra boa de oitenta seis, meu velho. Sem gato, oito-meia batido, infância boa, duas copas do mundo no currículo, alvirrubro desde pequeno, pra aprender a perder nessa vida e a amar na alegria e na tristeza. Atacante nato, destro, sentava no fundão, da turma do abraço, gaiato, bagunceiro, fominha e raçudo, o resto é extra campo.

Que venha 2046, que a gente vai levando entre sonhos e choques de realidade, do jeito que dá, só por pirraça e por muita vontade de viver mesmo, por amor a vida e ao próximo, vestido e armado com as armas de São Jorge, pra seguir invicto, sempre incluso na lista de Moisés, pra passar quando o mar vermelho abrir.

#1986 #trintei

Salgueiro, 19 de maio de 2016.

Mariano Sá.