Só pra contar mesmo, que ontem fui ver Dilma, meio que num
tom de despedida - ao menos por 180 dias
– já que o golpe tornou-se evidente, porém, a luta existe, meu grito contrário
persiste. Mas nem é disso, nem é isso que quero contar. Quero falar da obra.
Fomos ao encontro da presidenta numa solenidade de entrega de um dos trechos da
obra da Transposição do São Francisco numa zona rural lá de Umãs, quase Cabrobó
– terra da massa, Lirinha.
Velho, vi algo surreal. Deixamos o carro e caminhamos quase
uns 3km até chegar no local da apresentação. É uma estação elevatória, gigante,
numa estrutura mais impressionante do que o hotel sete estrelas famoso de
Dubai. É uma realidade pouco vista e muito criticada por aqueles que fazem da
crítica ao governo um hobby.
Sim, havia água lá. Água transportada. Água do velho Chico
que não faria curva ali senão por esta obra. Água que penetra as entranhas do
sertão com intuito de aguar a vida, de matar a sede, de lavar a alma dos que se
importam com quem planta e precisa colher.
Eu sei, brow, eu sei! Tolice minha cair nessa conversa fiada
de que o governo se importa com as pessoas e a obra foi feita com a melhor
intenção de beneficiar os que sofrem com a falta d’água e parará e coisa e tal.
Eu sou tolo e talvez cego. Mas a água está lá, tá ligado? A parada funciona,
tem gente até mergulhando nessa realidade molhada que inunda o que era seco e
faz brotar a sensação de que existe amor ao próximo. Obrigado por quem se
importa.
No caminho de volta comentei com Marise, sobre os trabalhadores
que participaram dessa gigantesca obra e brinquei, com essa minha mania de
cronista amador, de que a história de um desses peões, se encaixaria numa
estrofe da música Cidadão de Zé Geraldo. Como a igreja, sabe? Como quem
desfruta do que criou.
Tá vendo aquela água,
moço?
Ajudei trazer pra cá
Hoje o milho e o
feijão
Que aqui brota no meu
chão
Vem desse meu regar
Ali sim, valeu a pena
Pois nem a seca plena
De sede irá me matar.
Fica aqui, Dilma, meu singelo registro, nesse textinho
xucro, a minha imensa gratidão em nome dos sedentos, dos fracos, dos tolos que,
como eu, carregam o otimismo no coração. Em nome das mães, dos 54 milhões e em
nome do amor, por mim, você fica! Beijo.
Mariano Sá.