segunda-feira, 9 de agosto de 2010

é um bom tipo, meu velho...

Lembra quando eu te levei na escola e segurei firme a tua mão
para o medo daqueles muros não te tocar?

Quando fingi que não vi o rubor em sua face
ao fitar a sua primeira paixão de infância?

Quando te abracei e prometi que aquele pesadelo
não iria mais te incomodar?

Quando acreditei que você venceu o duelo com o coleguinha da escola
e apenas curei suas feridas de guerra?

Quando fui o pior goleiro do mundo pra te fazer
o melhor jogador do universo?

Quando troquei farpas com o vizinho
defendendo uma razão que você não tinha?

Eu sei que lembra, porque essa lembrança fundiu nossos corações.
Sei também, pelos seus olhos, que eu era o herói, o mágico,
o mais inteligente e o mais forte entre todos os pais.

Mas, por alguma razão do destino, a vida entendeu por bem nos afastar...
E então, outro dia, percebi você, num choro já adulto,
se perguntando porque minha mão largou a tua...

E eu, também em pensamento, te falei: fecha os olhos e sente os meus dedos tocando o teu sorriso, porque ele é o reflexo do meu.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

de saudade

Em qualquer deserto achas o que tem aqui
neste quarto fechado com pouca luz
qualquer feixe ilumina um espaço vazio
e cá, d'outro lado me esquivo do claro

não me verás tão cedo, nem saberás de mim
cá estou curtindo minha solidão, a sós com o tempo
com o vento que assombra minha janela zunindo dor
barulho de saudade é silêncio em pleno dia

qualquer dia aqui é vago, vazio de tua presença
transparente da tua pele escura, mudo da tua voz grave
não estás aqui,- nem aí pra mim - nem cá nem lá
estás, hoje, apenas em meus sonhos

tu que outrora foste sólido protetor
hoje em mim és vertigem
e saudade
dor que virou saudade

e suplico: invade meus sonhos mais dias
invade meus dias com paz
soa em dó maior felicidade
que daqui eu canto
tanto
tanto
eu canto minha saudade pra Deus
em qualquer canto eu canto

Mariano Sá