Deparei-me com uma foto hoje, que trouxe a nostalgia.
Lembro bem, julho de 2012 – ano diamante -, faria minha
primeira partida como jogador de futebol profissional, a realização de um
sonho, meu e do meu pai. Singelo, pai. Discreto, sem holofotes ou fortunas, mas
muito afortunado de ego.
Ver o nome no BID (boletim informativo diário da CBF), apto para
jogar, saúde de ferro, a gente voava graças ao nobre amigo, preparador físico de altíssima qualidade e profissionalismo, professor André
Portuga, um abraço, meu irmão, que a vida lhe seja sempre leve.
Era um tempo de aflição, eu trabalhava num escritório de
advocacia, estudava pro exame de ordem e treinava no ÍBIS, black Bird, pior do
mundo, completava meu curto tempo, e me enchia de sonhos, embora vivesse já
dentro deste.
Julho de 2012.
Eu saí de casa as 7:30, tinha que chegar no escritório as 08hs,
de lá, ao final do expediente - saindo mais cedo, claro - partiria para a concentração na cidade de Paulista, região metropolitana
da capital dos altos coqueiros, eu estava treinando desde dezembro de 2011 com
o grupo, esperávamos ansiosamente por essa data da estreia, à flor da pele.
Quando saí de casa, minha mãe que não é nada poética, embora dramática, disse
para mim: “vá brilhar meu filho!” Ela pouco se importava com isso, mas sabia o
quanto era importante pra mim.
Nem brilhei, mãe. Embora me sinta uma estrela
por ser teu filho, nesse dia nem brilhei.
Quando cheguei na concentração, o clima era ótimo, ansiedade
animada, espalhados pelos colchões no chão de uma casa alugada para apoiar
alguns jogadores que vieram de fora, e também para nos concentrarmos, era nosso
hotel de luxo, com arroz e feijão que a gente fazia o prato na panela mesmo,
põe o prato no chão e o chão tá posto, nobre
Chico.
Era um batalhão, comandado por um homem, sonhador como nós,
simples, rude, hilário, nervoso, amigo e filho da puta, a quem devo, além de um
enorme respeito, a gratidão de quem comigo sonhou e realizou o meu sonho.
Obrigado Professor Marcos Costa, que Deus o tenha na área técnica do maracanã
celeste, que é onde você é e faz os outros felizes.
Já disse noutras crônicas, e sempre falo para os amigos: o
que sei sobre ética e moral, aprendi com o futebol (a frase não é minha, mas a
realidade é a mesma).
Aprendi desde cedo, a lição mais nobre que o futebol me
deu, qual foi, aprender a perder.
Tarefa difícil. Mas eu sei, e as perdas e
derrotas que tive na vida, encarei de cabeça erguida, talvez porque, lá nos
primórdios da escolinha do colégio Anchieta, professor Guilherme me ensinou
isso.
Talvez por causa do pênalti que perdi numa final ainda na escolinha.
Talvez pelo drible mais humilhante que levei na frente da menina mais bonita da
escola. Talvez pelo náutico, talvez pelas disputas com André no winning eleven,
talvez pelo gol perdido debaixo da barra no campo do santos dumont que tentei
dar de letra, e Gilsinho me chamou de filho da puta, talvez pelo dedo esfolado
no paralelepípedo na Hélio Falcão, 550, boa viagem, talvez pelo tornozelo
torcido, pela queda no cadarço desamarrado, juvenil, pelo gol dado, pela vaia
da torcida, pelo gol contra, pela bolada na cara ou nas partes íntimas, pelo “puta
que pariu, Mariano, toca a porra da bola”, pelos 10 minutos ou dois gols que
meu time saiu com 2 minutos de campo, por tudo que foi inglorioso, e se tornou
glória no final.
Eu que já não quero mais ser um vencedor e perder a glória de
chorar, barbudos, eu mesmo não!
Quando chegamos no Ademir Cunha – o Paulistão – no
vestiário, uma surpresa, Professor André tinha organizado com nossos familiares,
namoradas, amigos, que fizessem algum cartaz com uma mensagem, fotos ou sei lá
o quê... Sei que tava lá, feito por Marise, minha dileta companheira, um cartaz com o trecho da música
tente outra vez de Raul, toca Raul nessa porra!
As lágrimas escorriam
naturalmente ao ver aquilo, não apenas por aquilo, mas por tudo descrito no
parágrafo anterior. Por toda uma história esperando aquele dia, por todo
incentivo do meu pai, homem que venceu na vida com os estudos, e queria que o
filho fosse jogador de futebol, ah pai, eu não te decepcionaria nessa vida.
Digo, talvez sim, mas nunca sem tentar acertar à sua altura.
Não chorava sozinho, e ouvi prantos maiores, nas paredes do
vestiário estavam histórias dos campos
de várzea de tantos sonhadores como eu. Era um dia lindo. Aliás, é um dia lindo
em minha memória. Perdemos o jogo, mas pouco importa. Foi lindo. Foi utópico e foi
real.
Ah 2012, como te agradeço.
Tivemos, ao longo da competição, vários momentos emocionantes,
que quem sabe eu os conte ao longo dessa vida, várias derrotas e pasme,
vitórias também. O íbis entraria no livro dos recordes mais uma vez, porque
naquele ano completaria 4 anos sem vitórias em partidas oficiais. Acabou!
Tiramos isso, e nem fomos o último na competição. Jogávamos por um sonho e não
por dinheiro. O dinheiro era pouco, e se esvaía com os próprios gastos com
deslocamento para treinos e jogos.
O sonho realizado era pago com suor,
gratificante suor que se confundia com as lágrimas em meu rosto e eu nem sabia
mais se o gosto de sal vinha dos poros ou dos olhos.
Deixo aqui, um agradecimento a todos os companheiros de
equipe, a comissão técnica, ao presidente Urubu, aos torcedores, e todos que participaram
direta ou indiretamente conosco.
Peço aos amigos, sempre que lembrarem de mim, no futuro, na velhice,
numa memória póstuma, o que seja, digam que o amigo de vocês foi jogador de
futebol profissional do íbis, isso me orgulha muito e ao meu pai também. =)
Mariano Sá.