De tudo fica um pouco - resíduo de Drummond – fica sim, de
tudo um pouco.
Poema lindo pra tirar lá debaixo do tapete o que se tenta
esconder, mas ainda está ali.
De tudo fica um pouco, um pouco de mim em você, um pouco de
você em mim.
Um pouco fica e sai, outra quantia fica, talvez, por toda a
vida.
Porque de tudo fica um pouco do bom que se acrescentou, se
absorveu e se instalou na formação de uma nova personalidade, na evolução que
houve com o sinalagmatismo de quem dá lá e toma cá.
“E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.”
O cheiro é bom, Drummond, tal qual sinto, é bom.
É cicatriz, que diz a nova canção da Nação Zumbi:
Visível marca de um riscado
inesperado
Pra lembrar e nunca mais esquecer
Visível marca de um riscado inesperado
Pra lembrar o que lhe aconteceu
Ficar bem desenhado só pra ser bem
lembrado
Risco do erro, mal visto, mal quisto e mal olhado
Quem vê vira logo a vista para o outro lado
Mas essa daqui me traz uma boa lembrança, não preciso esconder
Mas essa daqui me traz uma boa lembrança, não vou mais esquecer
E seja como for, mangue-boys, eu me lembrarei, não esquecerei.
Não vou esquecer do prato de flores, mas precisei levar Minh ‘alma
pra passear.
A lua nos chama, Lenine.
De tudo fica um pouco, mas as canções, estas ficarão muitas, esse
canto espantou muitos males naquele percurso, mas se a gente não sabe mais rir
um do outro, meu bem, então o que resta é chorar.
Temer findar é procrastinar e elevar a dor. Do fim, ninguém
escapa. Levarão seu amor pelos braços, nem que seja a morte, como disse noutra
crônica dia desses.
O amor acaba, como Xico Sá citou, acaba como na crônica de Paulo
Mendes Campos: “Numa esquina, por
exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés
engordurados, diferente dos parques de ouro onde começou a pulsar..."
Diferente dos parques de ouro.
Diferente de quando os olhos brilhavam.
Diferente de quando a ânsia era pelo encontro.
Diferente de quando um abraço fazia esquecer o mundo.
Diferente de tudo que o tempo rouba.
O amor é filme e Deus é espectador, Lirinha.
É drama, aventura, mentira, comédia romântica.
Dele teme-se o fim, também o começo. O amor assusta. É drama, é
suspense.
Amor não avisa quando vai, tampouco quando vem, simplesmente sai
ou chega.
Avassalador, Lenine, chega sem avisar.
Chega, faz um estrago danado, é bom, fica, mas vai...
Acaba, Paulo Mendes Campos, “...de repente, ao meio do cigarro que
ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto,
polvilhando de cinzas o escarlate das unhas.”
O amor acaba em 90 minutos, sem prorrogação. Alguém perde.
Dor inevitável nos dois vestiários subterrâneos, entranhas
apartadas por um apito final.
Mas se de tudo fica um pouco, deixa as canções, as tantas canções
tocar até enjoar, ou até outro amor roubar para si, a canção que um dia embalou
nossos passos.
Porque amores serão sempre amáveis e futuros amantes, quiçá, se
amarão sem saber, com o amor que um dia escapou pelos nossos dedos.
Mariano Sá.
Lindo, porém triste. Saudades Mari! Qdo vier a Recife avisa a gente. Bjos Paula Pio
ResponderExcluirSaudade tbm, Pio!! Quando eu for, é certo a stella na sua casa. =P
ExcluirBeijos e visite mais vezes o blog.
Perfeito Mari!!!
ResponderExcluirValeu Catunda!! =)
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